CARTA do Bispo de Angola, Frei João [Damasceno Póvoas], ao rei [D. João VI], em que, tendo-se instalado em Angola o Governo Provisório, composto de 7 membros, segundo os decretos de 2 e 19 de Setembro, o coronel do Regimento de Infantaria de linha, Joaquim José de Almeida, pôs em armas toda a tropa, municiada de pólvora e bala e chamando para o seu partido, o tenente de cavalaria, Francisco Gonçalves, que fez sair a cavalaria; informa que a Câmara e os homens "probos" prosseguiram na instalação do novo governo, tendo-o nomeado presidente do mesmo, contra sua vontade; posteriormente a tropa recolheu aos quartéis, deixando o povo indignado e revoltado, o qual exigiu a prisão dos ditos oficiais, o que acabou por acontecer, no entanto, os soldados revoltaram-se e foram direitos à fortaleza a fim de libertarem o coronel e o tenente de cavalaria; esta situação causou grande horror e confusão aos habitantes, que se puseram em fuga com medo da tropa; considera que a colónia corre perigo e só se tornará segura, se for enviada tropa para render a que está ao serviço, para o que bastarão 200 homens, sendo destes 50 artilheiros e extinguindo-se o esquadrão de cavalaria, substituindo-o por um batalhão de pretos, até porque os pretos gentios já não temem a cavalaria e só têm grande medo dos canhões; informa que a administração da Fazenda Real está no último desarranjo, existindo somente 3 deputados, considerando urgente o envio de um presidente para a Junta Administrativa, trazendo consigo quem governe as Armas, um juiz de fora, um oficial de fazenda para escrivão e outro para contador; pede urgentes providências, afirmando não ser sua intenção causar ruína ao coronel e ao tenente, mas sim, livrarem-se do terror diário em que se tem vivido; pede novamente a sua renúncia, devido ao estado precário da sua saúde.

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