OFÍCIO do governador e capitão-general de Angola, Nicolau de Abreu Castelo Branco, ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar], Conde de Basto [José António de Oliveira Leite de Barros], a informar que passados 2 meses e meio, que em Luanda se celebrou o Ato de Aclamação de El Rei D. Miguel I, teve o desgosto do aparecimento em Angola, de traidores ao Rei e à Nação, o que não é de admirar, visto que a maior parte da tropa e dos habitantes brancos, são sentenciados a degredo; participa que um indivíduo degredado perpétuo, de nome Vitorino Nogueira Mimoso e outro, 1º sargento, Francisco Xavier da Silva e Macedo, convidaram alguns oficiais inferiores, um do esquadrão e outros do Regimento de Infantaria de linha, para se reunirem num jantar na fazenda da Boavista, anunciando tratar-se de uma revolução, tendente a submeter Angola, ao domínio de S.M. o Imperador de Brasil e a melhorar a sorte dos degredados; descreve os acontecimentos, que concluíram na ordem de prisão dada a todas as pessoas indiciadas; determinou que o Ouvidor procedesse à competente devassa, de que resultaram as penas que descreve; considera que esta tentativa, pela pouca importância dos autores e pela indiscrição e incúria do seu plano, só foi importante pela gravidade da matéria e não pelo receio do seu resultado; informa que recompensou o furriel do esquadrão, Jerónimo de Morais Leitão, provendo-o no posto de porta-estandarte do esquadrão e encarregando-o da regência do distrito de Zenza, de que resulta algum interesse pecuniário, sendo este o primeiro indivíduo que participou da reunião, e ao soldado de artilharia, António José Garcia (que perdeu a mão direita), destacado na fortaleza de São Pedro, que comunicou ao governador o que tinha ouvido na dita reunião, ao qual recompensou, dando-lhe 100 mil réis, e esperando que S.M. lhe perdoe o seu degredo perpétuo; considera, que sendo a guarnição da cidade composta pela maior parte de degredados, torna-se útil ao serviço da Coroa esta medida extraordinária, como exemplo, ainda por cima com a extinção do comércio da escravatura.

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