OFÍCIO do governador e capitão-general de Angola, D. Fernando António de Noronha, ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar], Visconde de Anadia [João Rodrigues de Sá e Melo], sobre a providência dada pelo seu predecessor, para prevenir os dolos que se praticaram em Angola, a respeito do pagamento duplicado aos oficiais que vão dirigir os presídios; considera impossível que estes oficiais possam sobreviver num país com tão elevados preços dos géneros alimentícios, acrescendo, que não têm quartel, nem lenha, nem água, que se tornam artigos importantes para quem recebe tão diminuto soldo e paga tão elevado aluguer de casa, razão que os faz praticar ilegalidades; informa da existência de 3 conventos de religiosos na cidade, os Barbados Italianos, de Jesus e Marianos, sendo que em cada um existe um único frade, que só cuida em adquirir riquezas, levar boa vida e descurando praticar o Santo Ministério, para o qual foram enviados para a colónia; dá como exemplo o frade do convento de Santo António, denominado o "Padre Prefeito", que além dos 300 mil réis anuais que recebe da Fazenda Real, tem imensos escravos e arimos no Bengo; quanto ao prior dos Marianos, além da bela casa em que vive, possue para mais de 600 cabeças de gado vacum e boas hortas; conclui-se da absoluta inutilidade destes estabelecimentos religiosos em Angola, também referida numa conta do atual bispo; propõe mudanças na utilização dos seus edifícios e na aplicação dos seus rendimentos, os quais poderiam ser utilizados na Misericórdia, a qual tem grandes despesas anuais com os soldados e os paisanos que entram no seu Hospital.

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